Vai ser fácil reconhecer a trupe do CQC.
Afinal de contas, são sete homens vestidos de terno preto, usando inseparáveis óculos escuros. Mas a principal marca do time "Custe o que custar" é a irreverência.
Com humor inteligente, audacioso e muitas vezes ácido, o programa faz um resumo semanal das notícias, e nessa varredura dos fatos importantes, sob o olhar atento do CQC, ninguém escapa. No estúdio, quartelgeneral do CQC, Marcelo Tas, Rafinha Bastos e Marco Luque assumem a bancada, e além de conduzir o programa ao vivo terão a missão de comentar livremente os principais assuntos da semana. Não perca!
Ouça as gravações da negociação entre policiais e Lindemberg.
As longas negociações entre a polícia e Lindemberg Alves foram gravadas. Elas revelam detalhes impressionantes, como a voz de uma das jovens sendo agredida pelo seqüestrador. Minutos antes de a polícia invadir o apartamento, a tensão chega ao máximo. Lindemberg fala até em suicídio. Por que será que tudo deu errado? A reportagem é de Valmir Salaro. (...)
O Fantástico saiu em busca de respostas e ouviu um brasileiro que dá aulas para um grupo de elite da polícia americana: a SWAT.
Há nove anos, Marcos do Val é instrutor da SWAT em Dallas, nos Estados Unidos. Famosa na televisão e no cinema, a SWAT é um grupo de elite da polícia americana, preparado para enfrentar situações de emergência.
O brasileiro corre o mundo ensinando técnicas de invasão e combate. Marcos já treinou seguranças do Papa no Vaticano e militares que lutaram na guerra do Afeganistão.
A convite do Fantástico, ele assistiu aos principais momentos do cerco em Santo André e avaliou a operação.
Primeiro erro: permitir que a negociação se arrastasse por cinco dias.
“Em uma situação passional como essa, quanto mais tempo leva, mais inconstante a pessoa fica”, ensina.
Marcos explica que a SWAT estabelece o prazo máximo de 24 horas para libertar o refém. Mas nunca foi preciso esperar tanto.
“A negociação mais longa que a SWAT de Dallas fez até hoje durou nove horas. A partir daí é invasão”, ressalta.
Terça-feira, 22h50. Nayara é libertada pela primeira vez. Era um acordo de Lindemberg com a polícia: soltar a jovem em troca da volta da energia elétrica.
“Foi bem feito, porque houve essa troca: me dá a refém, que eu acendo a luz novamente", diz Marcos.
Quarta-feira. Para o instrutor da SWAT, a polícia perdeu uma chance de terminar o seqüestro no momento em que Eloá lança uma corda improvisada e recolhe o almoço. O corpo da jovem ficou inclinado para fora da janela. E Lindemberg apareceu atrás da ex-namorada.
“Essa é uma oportunidade que a SWAT usaria como vantagem”, afirma.
Havia duas possibilidades de ação. A primeira: atiradores de elite poderiam atingir Lindemberg, uma estratégia descartada pela polícia.
“Por se tratar de um jovem, com uma decepção amorosa, a nossa opção era esgotar todas os meios de negociação e tentar cansá-lo”, explicou em uma entrevista o comandante do Gate, coronel Eduardo Félix.
Diz o instrutor que a SWAT aproveitaria uma situação assim para matar o seqüestrador.
“Para eles não importa se é um jovem, o que importa é que tem uma vida em risco e que o rapaz está colocando vidas de terceiros em risco também”, ressalta Marcos.
Segunda tática que a SWAT usaria: a triangulação. Dois policiais estariam de tocaia em escadas posicionadas ao lado da janela, fora do ângulo de visão de Lindemberg. Um terceiro policial ficaria na janela do andar de cima, pronto para descer de rapel. No momento do ataque, um dos policiais na escada agarraria Eloá e tentaria proteger a cabeça dela. O outro daria cobertura enquanto o terceiro viria de cima e daria um tiro no seqüestrador. Tudo isso ao mesmo tempo.
“É o efeito surpresa”.
Quinta-feira: Nayara volta ao apartamento.
“Isso é o maior absurdo dos absurdos. Em nenhum lugar do mundo já existiu uma situação dessas”, critica Marcos.
Em entrevista, o comandante Félix disse que não acha que a volta de Nayara ao apartamento foi um erro na operação policial. Segundo a polícia, Nayara teria se oferecido para ajudar na negociação, com permissão da mãe. Mas ninguém esperava que a jovem entrasse de novo no apartamento.
“Teria que ter um policial com escudo balístico na frente, a Nayara do lado, o policial segurando ela para se aproximar, para falar. Se for o caso, recuar. Mas não deixar ela sozinha, andando, abrindo a porta. O seqüestrador se sentiu poderoso nessa hora, porque teve a refém de volta. Foi um erro gravíssimo e eu sinto vergonha de ser brasileiro e saber que a polícia brasileira fez isso”, admite Marcos.
Sexta-feira: o dia da invasão. Marcos acha que os policiais usaram uma carga excessiva de explosivo, e que não contaram com a possibilidade de haver obstáculos atrás da porta. Isso atrasou a entrada da equipe.
“Deu tempo para o seqüestrador pegar a arma, fazer o disparo para onde ele quisesse”, afirma
Marcos.
Outro erro: não entrar simultaneamente pela frente, janela e fundos, com uso de bombas de luz e som, que deixariam o seqüestrador desnorteado.
“Esse tipo de bomba é para dar aquela sensação de desespero para o seqüestrador. Ele não sabe de onde está vindo a polícia".
O policial que estava posicionado na escada, além de atrasado - a explosão já havia acontecido -, demora muito para subir.
“O que deveria ter sido feito? Esse policial, por exemplo, poderia ter vindo correndo com a escada, pararia na parede de costas, colocaria a escada praticamente como se fosse uma grade para ele, já posicionada, e outro já viria correndo e subindo ao mesmo tempo”, ensina.
As imagens mostram que a polícia teve dificuldade para conter Lindemberg. A SWAT utiliza uma técnica que leva menos de um segundo para imobilizar o agressor.
“Um piscar de olhos e ele já está imobilizado e algemado no chão”, diz Marcos.
Marcos também viu falhas graves no socorro às vítimas. O médico, sozinho, luta para atravessar o tumulto. Os policiais pisam em Lindemberg. O caminho deveria estar livre para a equipe de socorro médica, com macas.
Eloá foi carregada no colo por um policial, um procedimento que Marcos julgou incorreto. E o pior: a cabeça ferida da jovem esbarra no corpo do médico. O jaleco dele fica manchado de sangue. Depois que o médico percebe, volta, então, para socorrê-la.
O desfecho foi trágico.
“Nós usamos todas as técnicas para evitar o que ocorreu”, garante Flávio de Pierre, comandante do GATE.
“Se nós tivéssemos atingindo com um tiro de comprometimento o Lindemberg, fatalmente o senhores estariam hoje questionando o Gate porque não negociaram mais”, declarou o comandante Félix.
“Você pode ter certeza nós estamos aprendendo muito com esse resultado e vai nos servir como experiência de vida”, admite o negociador do seqüestro Adriano Giovanini.
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