quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Chegou a hora de levar a sério a crise no Brasil

1. Primeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva debochou: “Crise? Pergunte ao Bush.” Depois, disse que os efeitos seriam “quase imperceptíveis”; mais tarde, já admitia a hipótese de um “pequeno aperto”. Ontem, enfim, afirmou que a situação é “séria e profunda”. A manchete do Globo (para assinantes) diz que o otimismo acabou dentro do governo e a equipe econômica já trabalha na revisão do Orçamento de 2009. Esperava-se um aumento do PIB de 4,5%, com dólar a R$ 1,71 no ano que vem. Com a moeda americana acima de R$ 1,90, a estimativa passa a ser de crescimento entre 3% e 3,5%. Para equilibrar a receita menor com os impostos, deve haver um grande corte de despesas. Como diz um editorial do Estadão, o governo deve “deixar de lado a oratória de palanque e estudar como enfrentar as dificuldades sem desarranjar a economia”. Parece que Lula já entendeu o recado.

2. Financiamento mais caro, com prazos menores

Uma prova de que o Brasil está acusando o golpe da crise está nos financiamentos. A Folha (para assinantes) diz que dados da Anefac (associação de executivos de finanças) indicam um aumento do juro médio de 7,39% para 7,45% e os prazos caíram de 24 para 12 meses nas lojas de produtos eletrônicos e de informática. Mesmo que o pacote americano venha a ser aprovado, a tendência é manter o aperto, pois o mercado ainda está muito hesitante.

3. Senado dos EUA vota hoje nova proposta do plano de salvação

Os jornais americanos noticiam que o Senado deve votar hoje uma versão alternativa do pacote de até US$ 700 bilhões para conter a crise financeira. Segundo o The Wall Street Journal, o governo Bush aceitou elevar para US$ 250 mil o valor de proteção de depósitos bancários, além de propor incentivos fiscais ao setor de energia alternativa. O The New York Times informa que a intenção do Senado é devolver à Câmara um projeto que mostre aos deputados uma preocupação maior com os correntistas e faça com que eles aceitem esse texto alterado. Depois da queda do cavalo na Câmara, é melhor não apostar em nada.

4. Crise aprofunda divisões na América do Sul, diz WPO

The Washington Post detectou mais um efeito da crise econômica para a imagem dos Estados Unidos: a credibilidade americana na América do Sul está minguando. O jornal afirma que líderes que costumam defender presença maior do Estado na economia, como Hugo Chávez (Venezuela) e Evo Morales (Bolívia), estão aproveitando a crise para tirar vantagens políticas, mas destaca que até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que evitava atacar os EUA, passou para a linha de frente das críticas. O WP lembra as palavras de Lula na Assembléia Geral da ONU, na semana passada, e as de ontem, quando ele disse não ser justo que a América Latina, a África e a Ásia “paguem pela irresponsabilidade de setores do sistema financeiro americano”. A desastrada guerra contra o terror já havia minado a influência americana em todo o mundo, e a crise certamente vai agravar a situação. Ao que parece, as palavras de Hugo Chávez, de que “o mundo jamais será o mesmo após essa crise”, serão proféticas.Ciência

5. Os quatro (muy) amigos em Manaus

A imagem que ficou do encontro entre os presidentes do Brasil, Bolívia, Equador e Venezuela, em Manaus, foi a dos quatro dando as mãos, sinalizando uma suposta sintonia entre as nações. Suposta, é bom dizer, porque a relação entre o Brasil e seus vizinhos não é das melhores. Principalmente com o presidente do Equador, Rafael Correa, que reafirmou ao presidente Lula sua intenção de expulsar a Odebrecht de seu país, como relata o Estadão. Como as posições de Correa não são muito confiáveis, é bem possível que a construtora brasileira consiga chegar a um entendimento no Equador. E aí o sorriso de Lula em Manaus pode ficar um pouco menos amarelo.

Fonte: O Filtro