quarta-feira, 14 de maio de 2008

terça-feira, 13 de maio de 2008

TJ nega liberdade a pai e madrasta de Isabella

TJ nega liberdade a pai e madrasta de Isabella


Leonardo Guandeline, O Globo Online


SÃO PAULO - O desembargador Caio Canguçu de Almeida negou a liminar pedida em habeas corpus para liberdade de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá. Os dois vão permanecer presos. Em seu despacho, Ganguçu de Almeida afirmou que a prisão preventiva do casal está "largamente fundamentada" na "cuidadosa investigação" e que não faz sentido conceder liberdade em decisão liminar. (veja a íntegra da decisão )

O desembargador classificou o crime como "gravíssimo" e praticado com "características extremamente chocantes" e afirmou que a investigação apontou tentativas por parte do casal de "descaracterização das provas, a eventual comprometimento da instrução e até a risco para ordem pública, o que todo o alarme gerado pela ocorrência em verdade está mostrando efetivamente possível".

Ganguçu Almeida afirma em sua decisão que, para libertar o casal, seriam necessários dados que evidenciassem uma "intolerável injustiça", o que "não parece estar acontecendo", e demonstrar de forma cristalina e evidente que a liberdade "não implica ofensa à ordem pública, em risco para a instrução processual ou para a garantia de aplicação da lei penal"

" A decisão que decretou a prisão preventiva está largamente fundamentada "

Para ele, não houve, como argumentaram os advogados de defesa, qualquer prejulgamento do caso por parte do juiz Maurício Fossen, que acolheu a denúncia do Ministério Público e transformou o casal em réu. "As observações feitas pelo magistrado, freqüentes e usuais em despacho de admissão da ação penal, não sugerem prematura afirmação de autoria ou de dolo", afirmou.

A decisão de Ganguçu Almeida é provisória, pois o mérito do habeas corpus ainda será julgado pela 4ª Câmara do Tribunal de Justiça, formada por Ganguçu Almeida e mais dois desembargadores. A 4ª Câmara se reúne todas as terças-feiras e a estimativa é que o mérito seja julgado em 20 dias.

Os advogados de defesa do casal não vão esperar pelo julgamento do mérito do habeas corpus pela 4ª Câmara do TJ, que não tem prazo para ocorrer.

Eles vão se antecipar e entrar com recurso no Superior Tribunal de Justiça (STJ).


Nesta terça, pela primeira vez, houve protesto de populares contra os advogados do casal.

Um grupo pequeno, mas barulhento, gritou 'advogados de bandidos, assassinos de criança', após entrevista do advogado Marco Polo Levorin, na Avenida Liberdade.


Situação mudou, diz desembargador

Alexandre e Anna Carolina tiveram prisão preventiva decretada e estão presos desde a noite do dia 7 de maio, quarta-feira passada. Os dois respondem por homicídio triplamente qualificado pela morte de Isabella Nardoni, 5 anos, filha de Alexandre. A menina foi asfixiada e jogada pela janela do apartamento do casal. Os dois respondem ainda por fraude processual, por terem limpado o apartamento para apagar provas do crime .

O desembargador Caio Canguçu de Almeida é o mesmo que libertou o casal da prisão temporária durante a fase de investigação do crime. Alexandre e Anna Carolina passaram oito dias presos. Ao libertar os dois, o desembargador afirmou que naquele momento não havia motivo para prisão, mas no decorrer das investigações os fatos poderiam vir a justificar a medida.


"..naquela oportunidade faziam-se claramente ausentes os requisitos impostos pela lei 7.960/89 para legitimar a custódia. Pese, nas obstante tudo isso, por aqui não é caso de antecipado eliminar deferimento da ordem reclamada.", disse Canguçu Almeida ao negar agora a liberdade.



Isolamento

Anna Carolina e Alexandre estão isolados após serem hostilizados nos presídios para onde foram levados. Durante o período em que estavam soltos, ficaram numa espécie de prisão domiciliar, pois não podiam sair de casa e uma multidão se postava diariamente na frente do prédio onde estavam hospedados, em Guarulhos.


As presas do Carandiru receberam Anna Carolina com mensagem no pátio de "assassina maldita" e ameaçaram uma rebelião. Ela foi levada para uma penitenciária feminina de Tremembé, a mesma onde está Suzane Richthofen, que cumpre pena de 39 anos pela morte dos pais. Também lá a situação está tensa. Ela está isolada e as presas ameaçam bater nela.

Alexandre está no 13º Distrito Policial. No primeiro dia, até tomou banho de sol com os demais detentos, vários deles presos também por assassinato. No segundo dia, porém, teve de ser levado para o isolamento, pois os presos se reuniram e avisaram ao delegado que não querem ficar perto dele.

A Polícia Civil busca junto à Secretaria de Administração Penitenciária uma vaga em um presídio ou Centro de Detenção Provisória (CDP) para Alexandre. No 13 DP, ficam os presos que ainda não foram condenados e possuem curso superior. Alexandre se formou em Direito em 2007.


De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, todo preso que vai para a cadeia sob custódia da polícia é automaticamente colocado em uma fila de espera para aguardar vaga em uma unidade do sistema penitenciário. Porém, o delegado Reynaldo Peres, titular do 13 DP, pediu em um relatório ao Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap) a transferência de Alexandre. "(...) tendo em vista que os presos aqui lotados não aceitam a convivência com o Alexandre, requisito a transferência", dizia o relatório enviado a Cláudio Rossim, diretor da Divisão Carcerária do Decap.

No caso de transferência, Alexandre deve ir para uma unidade preparada para receber detentos com nível superior. A pasta de Administração Penitenciária informou que possui celas especiais na Penitenciária de Tremembé II (a 138 quilômetros da capital) e na Penitenciária de Araraquara (a 273 quilômetros da capital).

domingo, 11 de maio de 2008

Entrevista exclusiva com mãe de Isabella Nardoni (Fantástico)

http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM826324-7823-VEJA+ENTREVISTA+EXCLUSIVA+COM+MAE+DE+ISABELLA+NARDONI,00.html
Ana Carolina de Oliveira deu à repórter Patrícia Poeta uma entrevista surpreendente e reveladora. Ela descreveu como era sua relação com o pai de Isabella, Alexandre Nardoni, e com a mulher dele, Ana Carolina Jatobá. Comentou a entrevista que ambos deram ao Fantástico em 20 de abril. Será que Ana Carolina de Oliveira acreditou na sinceridade do casal?

A mãe de Isabella também narrou com todos os detalhes o momento em que encontrou a filha caída no jardim do Edifício London, pouco depois da menina ter sido jogada do sexto andar. Ela conta quais foram as últimas palavras que disse para a filha.

E revela suas suspeitas: será que ela acredita que o pai e a madrasta estão envolvidos no crime?

A mãe de Isabella relata também como foi o dia em que Alexandre Nardoni a ameaçou de morte. Diz que Anna Carolina Jatobá sentia ciúmes dela, e descreve como foi o encontro que as duas tiveram no cemitério, no dia do enterro de Isabella.

Mais ainda: Ana Carolina de Oliveira manifesta o que pensa sobre a prisão do casal, nesta quarta-feira. Revela qual é o papel que pretende desempenhar como testemunha da acusação no caso do assassinato da própria filha. E diz o que lhe passa pelo coração no primeiro dia das mães sem Isabella.

Ana Carolina de Oliveira nunca chegou a morar com Alexandre Nardoni. Eram namorados, e ela engravidou aos 17 anos. Quando Isabella era um bebê de apenas 11 meses, os dois se separaram.

Começou uma relação difícil entre Ana Carolina e Alexandre. Na noite de 29 de março passado, Isabella foi esganada e depois jogada do sexto andar do Edifício London, em São Paulo, e morreu. Esta semana, os dois suspeitos do crime, Alexandre Nardoni e a mulher dele, Anna Carolina Jatobá, madrasta de Isabella, viraram réus no processo do assassinato. E foram para a cadeia.

Ana Carolina de Oliveira decidiu que era hora de falar.

Patrícia Poeta: Mais de um mês depois da morte da Isabella, como é que você está se sentindo hoje?

Ana Carolina de Oliveira: Eu ando muito angustiada. Meus dias têm sido muito angustiantes. Acho que só Deus sabe de onde eu tenho tirado forças para conseguir continuar minha vida, porque depois de uma tragédia dessa, e de tudo que está acontecendo, a vontade que você tem é de se entregar junto, de que a sua vida acabou. Então, assim, pela minha filha, eu arrumo forças para continuar e conduzir minha vida por ela, porque eu estou aqui para lutar por ela.

Patrícia Poeta: Qual foi o momento mais difícil até agora para você?

Ana Carolina de Oliveira: O momento mais difícil foi depois desse mês, que eu voltei a trabalhar. A minha volta do trabalho é muito difícil. Eu me sinto... Acho que é a pior hora do dia para mim, porque eu sei que eu vou chegar em casa e ela não vai estar. As horas que eu vou dormir, e as horas que eu rezo para Deus realmente me dar força, para eu continuar, porque está sendo uma situação muito difícil para mim.

Patrícia Poeta: O que você lembra? Tem alguns momentos em que você pára para pensar na Isabella?

Ana Carolina de Oliveira: A hora mais difícil realmente é o momento de voltar para casa, porque quando eu saía para trabalhar ela estava dormindo. Quando eu volto, era a hora que a gente tinha de brincar, de eu ajudar a fazer lição. E sempre que ela ia dormir, porque nós dormíamos juntas, então, sempre que a gente ia dormir, tinha dia que ela pedia para dormir comigo, que a gente dormia com a perna entrelaçada. Ela me pedia toda noite para contar uma historinha diferente. São essas horas as horas mais difíceis para mim.

Patrícia Poeta: Que boas lembranças você guarda dela?

Ana Carolina de Oliveira: Ela era uma criança maravilhosa, que me ensinou muito. Como pessoa, como mulher e principalmente como mãe. A sabedoria de ser mãe, porque ela me ensinou muito.

Patrícia Poeta: A gente pode continuar?

Ana Carolina de Oliveira: Pode.

Patrícia Poeta: Eu vi que quando você entrou, você trouxe essa girafinha (uma girafinha de pelúcia).

Ana Carolina de Oliveira: Nós tínhamos três ursinhos, um azul, que foi um ursinho que eu estava no dia do enterro, esse, que ela ganhou, e uma Magali. Cada noite que a gente ia dormir, ela falava: ‘Mamãe, hoje você quer dormir com qual?’ Cada noite a gente fazia um revezamento e escolhia quem ia dormir com qual bichinho. Esse daqui é um que traz uma lembrança muito grande para mim.

Patrícia Poeta: Ana, demorou um pouco para cair a ficha?

Ana Carolina de Oliveira: Demorou. Pelo fato de ela ir para lá, para casa do pai no final de semana, eu tinha... Você aprende a lidar com a situação de passar alguns dias longe. Então, na primeira semana eu ainda estava com a sensação de que foi uma semana que ela foi passar férias, uma semana que ela esteve lá e que eu tinha esperança de que ela fosse voltar, ia chegar o domingo. Até um dia depois do meu aniversário, que ia chegar domingo e ela ia aparecer. E que ia tocar a campainha da minha casa e ela ia voltar.

Patrícia Poeta: Você achava que ela pudesse voltar?

Ana Carolina de Oliveira: Eu ainda acho. Tem algumas horas do meu dia que... É como eu te falo, para mim, a noite é muito mais difícil. Chega a noite, eu acho que ela vai voltar.

Patrícia Poeta: Pelo menos pelos últimos anos, eu não lembro de um caso que tenha chocado, e que tenha mexido com tantas famílias brasileiras como o caso Isabella. Entre tantas notícias, entre tanta gente falando, o que chamou a atenção foi o seu silêncio. Ter se afastado, ter ficado quieta. Foi uma decisão sua, pensada?

Ana Carolina de Oliveira: Não. Foi a maneira que eu escolhi de até obter um entendimento do que tinha acontecido, entendeu? Eu também não sabia de toda a situação, de toda a história, como a população. Foi uma maneira que eu escolhi para também não falar sem saber. É o que eu escolhi para mim. Eu escolhi para mim não querer falar e não me expor. Foi somente...

Patrícia Poeta: Você queria esperar as investigações?

Ana Carolina de Oliveira: Exatamente.

Patrícia Poeta: Você tem sido muito forte desde que tudo isso aconteceu. Mas para algumas pessoas, isso foi confundido como frieza. Você sentiu isso, você ouviu comentários das pessoas?

Ana Carolina de Oliveira: Eu escutei muitos comentários desse tipo. Eu não consigo, por exemplo, aqui eu estou super nervosa, eu não consigo chegar aqui ou em qualquer lugar e simplesmente chorar. Chorar muitas vezes soa falsidade. Não é porque eu choro ou que qualquer outra pessoa chore que seja sinceridade. Eu tenho os meus momentos, os momentos que são os mais difíceis da minha vida, como eu te falei. Quando eu volto do trabalho é uma hora que eu choro muito. Eu choro muito. Quando eu vou dormir... A maneira que eu encontrei força foi de realmente ser pela minha filha e achar que a justiça precisa ser feita. Então eu vou ter forças para continuar, por ela.

Patrícia Poeta: Por isso que você aceitou dar essa primeira entrevista e dessa vez na frente das câmeras?

Ana Carolina de Oliveira: Hoje eu me sinto mais preparada para falar do assunto. Não que eu esteja, assim como eu te falei, eu estou muito nervosa, eu suo muito. Eu me sinto nervosa, mas um pouco mais preparada para falar do assunto.

Patrícia Poeta: No sábado em que tudo aconteceu, onde você estava quando recebeu a ligação?

Ana Carolina de Oliveira: Eu tinha ido a um churrasco de uns amigos, que, inclusive, era bem longe da minha casa, e eu voltei. Estava voltando de lá e estava indo para casa de uma outra amiga minha que estava comigo no churrasco. Eu estava entrando na casa dela, que é bem próxima ao apartamento, porque ali no bairro, pelo que todas as pessoas perceberam, a minha casa, a casa dos pais dele, a delegacia e o fato são locais bem próximos. Eu cheguei com muita rapidez ao local porque eu estava próxima. Eu estava entrando na casa. Então eu entrei e saí. Já estava com a bolsa na mão, estava entrando e o celular tocou, eu atendi o celular e já logo saí.

Patrícia Poeta: Quem ligou para você?

Ana Carolina de Oliveira: A Anna Carolina.

Patrícia Poeta: O que ela falou para você?

Ana Carolina de Oliveira: Ela gritava muito, ela gritava muito. Poucas coisas que ela falava eu entendia. Eu entendi que jogaram ela, teve alguma hora que, pela gritaria, pelo nervosismo que eu fiquei na hora, eu entendi que ela tinha caído na piscina. Eu gritava para ela, eu falava: ‘faz respiração boca a boca, vê o que vocês podem fazer. Vocês já chamaram resgate?’. Nesse caminho que eu estava indo para lá. Tanto que eu desliguei o telefone na esquina, a casa que eu estava, dessa minha amiga, era tão perto que, quando eu desliguei o telefone com ela, eu estava na esquina da rua, entrando na rua. Ela estava ali na rua. A Anna Carolina estava ali na rua, e quando eu estava chegando ela acenou ainda. Eu abri a porta do carro e desci do carro, com o carro andando, estava meio devagar mas o carro estava andando. Entrei correndo pelas escadas e ela estava logo ali no chão.

Patrícia Poeta: Quando você chegou lá, a Isabella ainda estava viva? Ela ainda respirava?

Ana Carolina de Oliveira: Estava. Ela respirava. O coração dela batia e ela estava no chão. Eu ajoelhei na frente dela e a única coisa que eu falei para ela, coloquei a mão no peito dela e falei ‘Filha, fica calma, mamãe está aqui. Vai dar tudo certo’. A minha vontade, quando eu cheguei, era de pegá-la e levá-la, de tirar ela dali e levar para socorrer ela. Só que eu não conseguia mensurar a altura que ela tinha caído.

Patrícia Poeta: Você não sabia que era do sexto andar?

Ana Carolina de Oliveira: Eu sabia que era do sexto andar, mas eu não conseguia, eu não conseguia olhar para cima, para ver. Então, a minha preocupação foi com ela, eu estava muito centrada em tê-la ali, fosse com problema, com qualquer problema, com qualquer seqüela, mas eu queria minha filha viva. Uma coisa... Ela estava com a cabecinha de lado. Então eu falei, será que deve ter prejudicado ela? Como estava viva, a minha maior esperança era ela continuar viva. Eu pensei que se eu tirasse ela dali, eu pudesse mexer alguma partezinha do corpo dela que fosse, que eu pudesse prejudicá-la, entendeu? Que eu pudesse, pelo fato de querer tirar ela dali, causar outro problema, entendeu?

Patrícia Poeta: O que você sentiu naquele momento, quando você a viu ali?

Ana Carolina de Oliveira: Uma dor muito grande de eu não poder ter defendido, de eu não poder estar ali com ela naquele momento.

Patrícia Poeta: O que o pai e a madrasta falaram para você logo quando você chegou?

Ana Carolina de Oliveira: Eles não me falaram nada. Eles nem conversaram comigo. O Alexandre estava próximo e ficou próximo dela. Ele ia para todos os lados e falava para a polícia: ‘Sobe, sobe’. Ele deu muita ênfase para a polícia invadir o prédio, que tinha alguém lá e ela gritava muito. Ela gritava, gritava, gritava. E eu não consegui ter o foco das pessoas que estavam ali. Eu só conseguia pensar e olhar para ela. Tanto que por duas vezes ela ainda suspirou, que talvez fosse a hora que ela teve uma parada cardiorrespiratória. E eu estava ali, focada nela, porque o resto não me interessava, eles não me interessavam.

Patrícia Poeta: A sua mãe estava no hospital com você?

Ana Carolina de Oliveira: A minha mãe chegou no edifício ainda. Eu estava dentro da ambulância, a minha mãe entrou na ambulância, porque ela não sabia direito o que tinha acontecido. Ela sabia apenas que ela [Isabella] tinha caído do prédio, mas não sabia também o que tinha acontecido. Nós fomos, a minha mãe teve que sair da ambulância, porque não dava para ir lá, mas a minha família toda seguiu para o hospital.

Patrícia Poeta: Quando você a viu ali, você já imaginava que ela tinha sido vítima de esganadura? Alguém já tinha falado alguma coisa para você sobre isso?

Ana Carolina de Oliveira: Quando eu a vi no chão, ela estava com a mãozinha roxa, com os lábios roxos. Eu olhei aquilo, achei até que fosse por causa do frio, que naquela noite estava muito frio. Achei que, como já fazia um certo tempo que ela estava ali, fosse por causa do frio. Tanto que a gente chegou ao hospital, pouco tempo depois a médica veio nos dar a notícia e nós entramos no quarto. A minha mãe ficou ali o tempo todo, eu entrei algumas vezes e saí porque era uma coisa assim muito dolorosa para mim ver minha filha, que a minha filha dali não ia voltar. E ela estava com a língua para fora, com a lingüinha para fora, e eu não sabia por quê. Você não pensa. Eu não pensei na hora na conseqüência. A minha mãe ainda cuidou dela toda. A minha mãe cuidou dela o tempo inteiro, beijou, beijou. Eu também, quando entrei no quarto, eu abracei ela muito forte, eu dei muito beijo nela, muito beijo e falei: ‘Filha, a mamãe vai deixar você ir em paz e a mamãe vai ficar aqui para lutar por você’.

Patrícia Poeta: No enterro, o que o pai fez? Ele falou com você?

Ana Carolina de Oliveira: Ele não fala comigo em momento algum. Quando eles chegaram, porque o velório - ocorreu que o corpo dela não foi liberado em tempo de ela ser enterrada no outro dia. Então, o velório correu a noite toda. Eu acabei cochilando um pouco porque eu também estava muito cansada, porque no outro dia eu fiquei acordada a madrugada toda. Eu cochilei no sofá do velório e eu não os vi chegar. Quando eu acordei, fui lá para o caixão e eles já estavam lá. Ele também estava cochilando e ele não olhou para mim, não veio falar comigo.

Patrícia Poeta: Nem uma palavra?

Ana Carolina de Oliveira: Nem uma palavra, nem um olhar.

Patrícia Poeta: E a madrasta?

Ana Carolina de Oliveira: Ela me viu chegar, ela levantou, me deu um abraço indiferente, olhou para mim e falou: “Você nem ligou para ela no sábado”.

Patrícia Poeta: E você?

Ana Carolina de Oliveira: Achei aquilo de uma frieza, e eu não perdi o meu tempo respondendo. Eu saí, fui ficar perto da minha filha. No sábado, eu tentei ligar, deu caixa postal, mas era uma coisa assim. No domingo logo de manhã a gente se falava, no domingo ela estava de volta.

Patrícia Poeta: Qual foi a última vez que você conversou com a Isabella?

Ana Carolina de Oliveira: A última vez que eu falei com ela foi na sexta-feira, por volta de umas 18h, quando eu saí do meu trabalho e ela já tinha ido para a casa do pai. Eu liguei para saber como ela estava e ela atendeu super feliz, com uma voz alegre. Conversamos e eu fiz a pergunta se ela estava feliz. Ela falou que estava muito feliz. Falei: ‘Então tá bom, filha, a mamãe te ama’. E era uma coisa que ela falava para mim todos os dias: ‘Eu também te amo muito, muito, muito, mamãe’.

Patrícia Poeta: Como era a sua relação com o pai de Isabella?

Ana Carolina de Oliveira: Muito pequena.

Patrícia Poeta: Você não conversava muito com ele?

Ana Carolina de Oliveira: Muito não, não conversava.

Patrícia Poeta: Nada?

Ana Carolina de Oliveira: Nada.

Patrícia Poeta: E com quem você tratava, lidava dos assuntos sobre a Isabella?

Ana Carolina de Oliveira: Com o pai dele.

Patrícia Poeta: Escola, todas as dúvidas, tudo era com o pai, você ligava para o pai para falar com ele?

Ana Carolina de Oliveira: Eu procurava não ligar muito, eu resolvia tudo o que eu podia resolver. Escola, médico, todos os tipos de assunto em relação a ela eu tentava resolver. Quando o assunto era ele, ou envolvia alguma coisa com ele, aí eu conversava com o pai dele. E era ele quem fazia esse intermédio, conversava com ele, conversava comigo.

Patrícia Poeta: Por que isso, foi um acordo entre vocês?

Ana Carolina de Oliveira: Não.

Patrícia Poeta: Ele pediu para não falar com você?

Ana Carolina de Oliveira: Não, ele nunca quis conversar comigo. Uma maneira que a gente encontrou de se comunicar era através do pai dele, ele sempre intermediou tudo.

Patrícia Poeta: Como era a relação da Isabella com o Alexandre, com o pai?

Ana Carolina de Oliveira: Ela me falava pouco da relação deles. O que ela me contava muito do final de semana dela é que ela tinha dançado, que ela tinha passeado e dos irmãos. Os irmãos era uma coisa que ela contava muito. Agora, da relação deles, ela não dava ênfase a esse assunto. Dos irmãos ela falava sim, e muito.

Patrícia Poeta: Ela falava para você se ele era um bom pai, se ela gostava dele?

Ana Carolina de Oliveira: Não, ela nunca chegou a esse tipo de comentário. Acho também que ela era muito novinha para chegar a um bom pai ou não ser um pai.

Patrícia Poeta: Isso era tudo que ela falava, mais nada além disso?

Ana Carolina de Oliveira: Eu sempre perguntei: ‘Como foi o seu final de semana? O que você fez, onde você foi?’ Às vezes, ela até falava: ‘Ah, mãe, eu não lembro!’. Eu falava: ‘Como não lembra, aconteceu hoje, foi o seu final de semana, você tem que lembrar’. Aí ela contava muito dos irmãos, que ela chamava o Pietro de Titi: ‘O Titi estava nervosinho, o Titi fez isso, o Titi não gostou disso’.

Patrícia Poeta: O pai pagava pensão alimentícia para a filha?

Ana Carolina de Oliveira: Ele pagava. Às vezes tinha atrasos, algumas coisas, era com o pai dele que eu tratava.

Patrícia Poeta: O Alexandre ou o pai do Alexandre?

Ana Carolina de Oliveira: O pai do Alexandre. Era tudo com o pai do Alexandre.

Patrícia Poeta: Você pode dizer quanto ele pagava de pensão?

Ana Carolina de Oliveira: R$ 250.

Patrícia Poeta: No seu depoimento, você conta que o Alexandre teria ficado transtornado algumas vezes e agido com violência. Pelo menos, numa dessas vezes ele teria ameaçado sua mãe de morte. É isso mesmo? Como é que aconteceu isso?

Ana Carolina de Oliveira: Nós nos separamos, a nossa filha tinha 11 meses e quando isso aconteceu, nós já estávamos separados há algum tempo. Eu precisava trabalhar e, como meus pais têm comércio, ficava difícil de conciliar. E eu coloquei ela na escola e ele não aceitou. Ele foi na minha casa brigar e eu tive que sair do trabalho para ir para a porta da minha casa encontrar com ele. Houve uma grande discussão, porque ele achava que essa idéia da escola era da minha mãe. Ele não aceitava, ele achava que a culpa era da minha mãe. Ele dava ênfase de que a culpa era dela, que ele queria falar com ela, que ele ia matá-la, porque a idéia foi dela.

Patrícia Poeta: Você ficou assustada?

Ana Carolina de Oliveira: Eu enfrentei.

Patrícia Poeta: Como?

Ana Carolina de Oliveira: Enfrentei, não tive medo dele em segundo algum, quando ele falava: ‘Eu vou matá-la, eu vou matar vocês’. Ele ia resolver a maneira que ele tinha para fazer, mas ali eu estava para enfrentá-lo.

Patrícia Poeta: Como era a sua relação com a Anna Carolina Jatobá?

Ana Carolina de Oliveira: Nós tínhamos pouca relação. Nos falávamos pouco em relação à Isabella, quando era algum recado que não podia ser por ela. Quando eu ligava, porque eu tinha o número somente do celular dela, quando eu ligava, ela já via que era o meu número e já chamava a Isabella, já passava o telefone. Era a minha filha que atendia o telefone.

Patrícia Poeta: Você acha que ela sentia ciúmes de você?

Ana Carolina de Oliveira: Sim.

Patrícia Poeta: Por quê?

Ana Carolina de Oliveira: Não sei, eu nunca dei motivo.

Patrícia Poeta: Mas por que você achava isso, o que ela fazia que fazia você achar que ela tinha ciúmes de você?

Ana Carolina de Oliveira: Não era eu que achava, ele que me falou algumas vezes e a família dele também me falava. Não fui eu quem tirei essa conclusão. Foram eles que me contaram.

Patrícia Poeta: Como era a relação da Isabella com Anna Carolina Jatobá, a Isabella te contava?

Ana Carolina de Oliveira: Ela me contava como uma relação normal. Ela nunca, ela era uma criança que contava as coisas, ela chegava em casa contando as coisas. E ela contava, eu ainda perguntava quem cuidou dela, quem fazia as coisas para ela, ela me falava que era a Tia Carol.

Patrícia Poeta: Alguma vez a Isabella relatou qualquer história de violência ou agressão por parte da madrasta?

Ana Carolina de Oliveira: Não.

Patrícia Poeta: Eu pergunto porque em outra parte do depoimento você conta que a Isabella chegava com manchas roxas no corpo e beliscões. Como ela explicava isso para você?

Ana Carolina de Oliveira: Ela e o Pietro tinham... O Pietro era uma criança que tinha uma idade maior. Então já tinha o entendimento de algumas coisas. Pelo que ela me explicava ele tinha muito ciúmes de brinquedo, um não podia pegar o brinquedo do outro. Às vezes ele, sei lá, por alguma coisa que acontecia entre eles, ele dava um beliscão. Ela chegava em casa falando “Ai, mamãe, o Pietro me beliscou”.

Patrícia Poeta: Qual foi sua reação à nova decretação de prisão do casal?

Ana Carolina de Oliveira: Eu acho que a justiça está começando a ser feita.

Patrícia Poeta: Você acha que a prisão foi justa?

Ana Carolina de Oliveira: Sim.

Patrícia Poeta: Como é conviver com a idéia de que o pai é um dos suspeitos pela morte da própria filha?

Ana Carolina de Oliveira: É difícil. É muito difícil saber que uma pessoa tenha a capacidade de chegar nesse nível. Seja no meu caso, ou seja em tantos outros casos, você não consegue imaginar como um pai, como uma pessoa que tem filhos, como uma mãe, ou qualquer pessoa que seja, tenha a capacidade de destratar uma criança.

Patrícia Poeta: Assim como a polícia, você acredita que eles são os suspeitos disso tudo?

Ana Carolina de Oliveira: Sim.

Patrícia Poeta: Você inclusive diz isso no depoimento que você deu à polícia, que você acredita que Alexandre e Anna Carolina possam estar de alguma forma diretamente envolvidos com tudo o que aconteceu. É o coração de mãe que diz isso?

Ana Carolina de Oliveira: Também.

Patrícia Poeta: Você comentou comigo que assistiu à entrevista que o casal deu ao Fantástico para o Valmir Salaro. O que você achou da entrevista? Você acha que ela foi convincente?

Ana Carolina de Oliveira: Nem um pouco.

Patrícia Poeta: Por quê?

Ana Carolina de Oliveira: Eu não, eu posso te falar que eu não achei que ela foi convincente, mas prefiro não dar detalhes do que aconteceu naquele dia.

Patrícia Poeta: Você tem todo o direito. Agora, em um momento da entrevista ela [Anna Carolina] diz algumas coisas, que se referem à Isabella e que de certa forma atingem você. Uma delas foi dizer que algumas vezes a Isabella a chamava de mãe. Você sabia disso, você concorda com isso?

Ana Carolina de Oliveira: Olha, nós tínhamos uma relação de cumplicidade, de mãe e filha. Nós éramos parceiras, éramos amigas e ela tinha inteira confiança de que ela tinha uma mãe. Eu não deixei em dúvida em segundo algum que eu não era a mãe dela, a mãe dela existe. A mãe dela está aqui, então ela não tinha outra mãe.

Patrícia Poeta: Você sentia toda essa reciprocidade dela?

Ana Carolina de Oliveira: Com certeza.

Patrícia Poeta: Em outro momento da entrevista, a Anna Carolina Jatobá diz que Isabella gostava tanto deles que já tinha pedido para morar com eles. Alguma vez ela falou isso para você?

Ana Carolina de Oliveira: Nunca. E o que eu acredito é que depois que eles montaram o apartamento e que ela tinha um quarto e que eles deram tudo, o quarto, material, ela possa ter recebido uma proposta: ‘Você tem tudo, vem morar com a gente’. Ela não tinha, nem nunca teve, nenhum motivo para sair dali. Na minha casa ela tinha carinho, tinha afeto, na minha casa ela tinha uma família.

Patrícia Poeta: Você não acredita que isso tenha partido dela?

Ana Carolina de Oliveira: Com certeza, não.

Patrícia Poeta: Na entrevista, Anna Carolina Jatobá disse: “Às vezes ela tomava banho comigo, ela fazia assim: ’Tia Carol, olha o amor que eu sinto por você, ela fazia um coraçãozinho [desenhando um coração com o vapor no vidro do boxe]”. Você lembra desse momento?

Ana Carolina de Oliveira: Sim.

Patrícia Poeta: O que você acha disso?

Ana Carolina de Oliveira: Ela fazia isso cada vez que ela ia tomar banho, era um costume dela desenhar no boxe, no calor do boxe, era um costume dela desenhar bonequinha. Ela desenhava eu e ela, ela fazia um coração eu e ela, quando ela tomava banho com a minha mãe era um coração para a minha mãe. Era um costume dela fazer coração, fazer coraçãozinho para todo mundo que estivesse até fora, para que, quando ela tivesse tomando banho, eu falasse: ‘olha, esse coraçãozinho foi para você’, porque a maioria dos dias a gente tomava banho juntas.

Patrícia Poeta: Logo depois que isso tudo aconteceu, o pai do Alexandre Nardoni se referiu a você como uma pessoa esquentadinha. O que você sentiu, o que você acha de tudo isso?

Ana Carolina de Oliveira: Acho que quando mexem com um filho seu, não tem ninguém que não seja esquentadinha. Quando ele se referiu a mim, com certeza foi a momentos ligados à minha filha, porque era esse o único contato que nós tínhamos. Se algum dia eu briguei, algum dia eu lutei, foi somente pela minha filha.

Patrícia Poeta: O promotor Francisco Cembranelli disse que acredita que tudo isso aconteceu por ciúmes. Você acredita nisso, você acha que seja possível?

Ana Carolina de Oliveira: Acho possível sim.

Patrícia Poeta: Ciúmes com relação a você, com relação à Isabella?

Ana Carolina de Oliveira: De uma forma ou de outra, a imagem dela era a minha imagem.

Patrícia Poeta: Outra coisa que ele fala é que esse processo de julgamento deve durar bastante, como você pretende acompanhar isso tudo?

Ana Carolina de Oliveira: Eu já tenho uma advogada ingressando no processo, eu vou acompanhar isso de frente.

Patrícia Poeta: E você é inclusive uma das testemunhas de acusação, certo?

Ana Carolina de Oliveira: Certo.

Patrícia Poeta: Você está preparada psicologicamente para tudo isso?

Ana Carolina de Oliveira: É exatamente isso que eu te falo, onde eu busco forças, porque se eu me entregar, eu posso não ajudar em tudo o que está acontecendo. É aí que eu busco e peço forças a Deus, que ele me ajude para eu poder ajudar, porque eu vou ajudar, no que eu puder, eu vou ajudar.

Patrícia Poeta: Por justiça?

Ana Carolina de Oliveira: Por justiça.

Patrícia Poeta: Você faria alguma coisa diferente se você tivesse uma segunda chance?

Ana Carolina de Oliveira: Olha, Patrícia, eu fiz tudo, tudo por ela. Eu não fiquei devendo nada nessa vida para ela, nada. O meu amor de mãe, a minha dedicação, tudo eu fiz por ela enquanto ela esteve comigo.

Patrícia Poeta: Esse vai ser o seu primeiro Dia das Mães sem a Isabella, como fica o coração nessa hora?

Ana Carolina de Oliveira: Eu não procurei pensar como vai ser o meu dia, mas acho que vai ser o dia mais triste da minha vida, porque há cinco anos, seis anos, porque no primeiro Dia das Mães eu já estava grávida, eu já era mãe. Vai ser o sétimo ano da minha vida que eu não sei o que é não ser mãe. Eu sou mãe, vou me considerar mãe para o resto da vida, mas eu não sei o que é não ter um abraço. Tudo o que eu sinto, e o que vai acontecer comigo, vai ser junto com a minha mãe.

Patrícia Poeta: Você gostaria de deixar alguma mensagem para esse Dia das Mães?

Ana Carolina de Oliveira: Primeiro eu quero agradecer a todas as pessoas que estão me ajudando. Vou continuar lutando pela minha filha enquanto eu estiver aqui, em nome dela. E dizer que eu acredito que a justiça vai ser feita nesse país.

Patrícia Poeta: Vamos encerrar. Eu queria agradecer você por ter aceitado dar essa entrevista para a gente, pela primeira vez na frente das câmeras, e dizer para você que eu desejo, assim como eu já falei para você inúmeras vezes ao telefone, que eu desejo sorte, mais força ainda para você seguir o seu caminho.

Ana Carolina de Oliveira: Obrigada.

Patrícia Poeta: Boa sorte.

Ana Carolina de Oliveira: Obrigada.

Na próxima terça-feira o desembargador Caio Canguçu de Almeida deve se manifestar sobre o pedido de habeas corpus para Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá. Se o pedido for aceito, o casal - que está preso desde quarta-feira - será libertado. Caso contrário, os advogados ainda podem recorrer ao Superior Tribunal de Justiça.

domingo, 4 de maio de 2008

Teste avançado de DNA pode resolver o caso Isabella Nardoni

Peritos e legistas analisam relatório da morte de Isabella

O caso Isabella Nardoni: um exame simples pode indicar se é da menina o sangue no carro da família. Essa dúvida até hoje não foi esclarecida pelos peritos de São Paulo. Uma técnica rápida e eficiente que pode mudar até a historia do assassinato da menina.

O caso Isabella Nardoni: um exame simples pode indicar se é da menina o sangue no carro da família. Essa dúvida até hoje não foi esclarecida pelos peritos de São Paulo. Uma técnica rápida e eficiente que pode mudar até a historia do assassinato da menina.

Elizeu Fagundes de Carvalho é um dos principais especialistas do Brasil em análise de DNA. E é categórico: amostras de sangue de Ana Carolina Oliveira, a mãe de Isabella, podem ser fundamentais para esclarecer parte do que aconteceu na noite em que a menina foi assassinada.

“Em termos de análise genética, o caso ainda precisa ter continuidade” aponta o geneticista Elizeu Fagundes de Carvalho.

A pedido do Fantástico, ele analisou o resultados dos exames feitos pelos peritos da polícia de São Paulo. No carro da família e no apartamento da família, foram colhidos 20 vestígios de sangue para se tentasse extrair o DNA. Para comparar com as manchas de sangue encontradas os peritos colheram amostras do sangue de Isabella; do pai, Alexandre Nardoni; e da madrasta, Anna Carolina Jatobá.

O laudo não informa se os filhos do casal e se Ana Carolina Oliveira, a mãe da menina, também forneceram material para o teste.

Do material recolhido, 11 amostras foram consideradas insatisfatórias: os peritos encontraram sangue nelas mas não em quantidade suficiente para identificar o DNA. Nesses casos, não dá pra afirmar de quem é o sangue.

Foi o que aconteceu, por exemplo, com uma fralda encontrada no apartamento e que segundo a delegada que comandas as investigações teria sido usada para limpar o sangue de Isabella.

A polícia achou a fralda dentro de um balde com água, em processo de lavagem. Segundo o laudo, os exames encontraram sangue na fralda. Mas não foi possível extrair e identificar o DNA.

Segundo o professor Elizeu Fagundes de Carvalho, que é integrante do Conselho Federal de Biologia, o exame do caso Isabella foi o de DNA Genômico, também chamado de DNA nuclear, que é o teste mais comum.

“O DNA nuclear é o DNA que está presente no núcleo das nossas células”, diz Elizeu.

Segundo o professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, existe um outro tipo de exame de DNA - mais avançado - que poderia confirmar se não há mesmo sangue de Isabella nas amostras que deram resultado insatisfatório. É o chamado teste de DNA mitocondrial.

“Ela é uma molécula que garante possibilidades de análises, quando o DNA nuclear está muito degradado ou quando está em quantidade muito baixa. A quantidade para fazer DNA mitocondrial é da ordem de mil a 10 mil vezes menor do que a quantidade necessária para fazer DNA nuclear”, explica o professor Elizeu.

A mitocôndria é responsável pela respiração celular. É a central de energia da célula. Segundo o professor, exames que analisam o DNA da mitocôndria - e não do núcleo - têm uma característica especifica.

“O DNA mitocondrial é uma herança exclusivamente materna”, afirma.

O professor Elizeu Fagundes de Carvalho já esteve à frente de mais de 30 mil análises de DNA – 300 delas relacionadas à investigações criminais. Ele afirma que se esse exame for feito, usando amostras de sangue de Ana Carolina Oliveira, a mãe de Isabella, seria possível dizer, com mais precisão, se na mancha encontrada na cadeirinha do bebê, há ou não sangue da menina. A resposta, tanto para defesa quanto para a acusação, é considerada decisiva para explicar o que aconteceu na noite do crime.

O laudo do instituto de criminalística mostra que na mancha da cadeirinha, a perícia encontrou uma mistura de materiais biológicos de duas ou mais pessoas - uma delas do sexo masculino.

O resultado, portanto, foi inconclusivo. Numa tabela, com o resultado dos exames de DNA, é possível notar que nessa mistura da cadeirinha foi descoberto, inclusive, material genético que não pertence a nenhuma das pessoas que teve o sangue analisado.

Na hora de comparar o material encontrado na cadeirinha com os sangues de Isabella, do pai e da madrasta, havia trechos de DNA que simplesmente não batiam.

A conclusão, segundo peritos ouvidos pelo Fantástico, é que vieram de outra pessoa. E não podem ser dos irmãos de Isabella, porque, como eles são filhos de Alexandre com Anna Jatobá, é impossível terem trechos de DNA tão diferentes do
DNA dos pais.

Um professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que também analisou os laudos, diz que uma das explicações possíveis para isso é que outras pessoas tenham estado no carro, como um amigo da família ou uma pessoa que limpou o veiculo.

“Se teve um uso anterior que não seja da família. Qualquer vestígio ali teria complicado e até contaminado, evidentemente. Aquele sangue está presente lá, mas a gente não sabe se é anterior, se foi do momento”, aponta Nelson Massini.

Já sobre o sangue no apartamento, o laudo aponta que o sangue é recente. Apesar da dúvida em relação à cadeirinha e à fralda, Nelson Massini considera que o laudo dos peritos tem indícios relevantes, como as marcas da rede de proteção da janela, na camiseta de Alexandre Nardoni; a ausência de vestígios de alguém, que não fosse da família, no apartamento; e o pouco tempo que uma terceira pessoa teria para cometer o crime e fugir, sem ser visto.

“A gente fica com uma serie de interrogações que eu acredito que não serão suficientes para criar um embaraço maior nem na denúncia deles e nem no julgamento”, acredita Massini.

Para o professor Elizeu Fagundes de Carvalho, a ciência ainda tem um papel na investigação.

“Todas essas informações ainda podem ser coletadas e elas certamente trarão luz. E poderão ajudar. Em relação ao que aconteceu no caso do crime em que a vítima foi Isabella”, acredita.

Fonte: G1