domingo, 9 de dezembro de 2007

Ele não contava coma astúcia do povo

Chávez tentou fraudar o plebiscito, mas os venezuelanos – que se negaram nas urnas a abrir mão de seus direitos – não caíram na armadilha
Diogo Schelp, de Caracas


Yuri Cortez/AFP

Festa venezuelana depois da vitória sobre Chávez: uma nova oposição bloqueia planos de ditadura vitalícia
Hugo Chávez é um político movido pelo instinto da concentração de poder. Quando a derrota no plebiscito do domingo 2 se revelou irreversível, seu primeiro impulso foi o de tentar esconder a verdade enquanto se pensava em uma saída golpista. Já sabendo da derrota, chavistas correram a divulgar falsas pesquisas de boca-de-urna dando a vitória à reforma constitucional – talvez esperando que a oposição sentisse o cheiro de fraude no ar e levantasse a voz, pedindo a anulação do pleito. No início da noite, com a convocação da cúpula das Forças Armadas veio a tentativa de mostrar força bruta. Chávez não contava com a astúcia do povo e da oposição venezuelana, que não caíram na provocação. O plebiscito foi sobre se o país preferia ser uma democracia ou adotaria uma nova Constituição de caráter totalitário. Se aprovada, teria dado a Chávez o poder ditatorial e vitalício. Perguntar a um povo se deseja ceder seus poderes constitucionais ao governante é um absurdo conceitual. As consultas plebiscitárias são legítimas quando arbitram conflitos dentro da própria sociedade – nunca para transferir poderes fundamentais do povo para os governantes. Os venezuelanos votaram claramente contra o projeto chavista de instalar uma versão diluída do regime cubano. Isso é um assunto resolvido. Chávez poderá tentar empurrar a revolução garganta abaixo dos venezuelanos – mas fazer isso ficou agora mais complicado.

Caudilho acuado: ameaças de retaliação
O caudilho finge que nada disso importa. Apesar de ter aceitado formalmente o resultado das urnas, em várias ocasiões, na semana passada, ele deixou claro a intenção de iniciar "nova ofensiva rumo à reforma". Se ele continua fanfarrão é, em parte, porque seu governo não está ameaçado no curto prazo. Chávez controla o Supremo Tribunal, o Congresso Nacional, grande parte dos meios de comunicação e, acima de tudo, os lucros da venda de petróleo. Mas a vitória oposicionista mudou bastante o panorama. Para começar, há uma nova e revitalizada oposição. Em lugar dos desmoralizados partidos tradicionais, ela é conduzida por novos protagonistas, como o movimento estudantil e o ex-ministro da Defesa Raúl Isaías Baduel. Esse general, o mesmo que garantiu a manutenção de Chávez no poder durante a tentativa de golpe em 2002, aderiu à campanha do "não" no mês passado para impedir a legitimação pelas urnas de uma tirania. Há nove anos no poder e com mandato até 2013, Chávez acumulava cinco vitórias eleitorais seguidas. Muita gente acreditava que fosse imbatível, pelo menos enquanto durasse o período de vacas gordas petrolíferas. Os clones de Chávez na Bolívia, no Equador e na Nicarágua devem estar agora com os nervos em frangalhos.

Na quarta-feira passada, Chávez precisou convocar seu ministro da Defesa para desmentir a versão de que naquela reunião na noite do plebiscito ele tentou – e não conseguiu – o apoio militar para um golpe branco. A maioria dos venezuelanos entendeu o desmentido da seguinte maneira: Chávez não conta com o respaldo incondicional do pessoal fardado. Primordial para que os militares ficassem do lado da legalidade teria sido a influência do general Baduel, agora na oposição. "Foi Baduel quem nos deu a informação, no domingo à noite, por telefone, de que Chávez havia se reunido com os militares e quem nos incentivou a continuar pressionando a comissão eleitoral a divulgar a contagem de votos", diz o líder universitário Freddy Guevara, um dos jovens responsáveis por transformar o movimento estudantil no principal protagonista da vitória do "não". Por modéstia ou cautela, Baduel não confirma nem nega que tenha influenciado indiretamente na decisão presidencial de aceitar o resultado do referendo. "O que posso dizer é que a Força Armada Nacional deu uma demonstração ferrenha de seu apego à Constituição e às leis", disse o general a VEJA.
O resultado das urnas deu uma vitória de apenas 1,5 ponto porcentual à oposição – diferença que Chávez qualificou de "pífia", num muxoxo de mau humor. O ditador frustrado pode continuar a falar de luta de classe, mas é perceptível que foi abandonado pelo eleitor mais pobre, aquele que ele adula com benesses clientelistas. A grande abstenção – 44% do eleitorado – foi elevada nos bairros pobres e em cidadezinhas do interior, tradicionais redutos do coronel. Esse eleitor está farto da incompetência administrativa e dos arroubos ideológicos do governo bolivariano. O preço do barril de petróleo atinge um recorde histórico, mas o cidadão comum em Caracas precisa entrar em fila para comprar 1 litro de leite. Chávez deveria ter prestado maior atenção à sabedoria de seu sósia, o desajeitado super-herói mexicano Chapolin Colorado.

Fonte: Revista VEJA Edição 2038

domingo, 18 de novembro de 2007

Chávez calado já está errado


Fonte: Revista VEJA Ed. 2035
A reação do rei espanhol aos insultos do caudilho levanta outra questão: a inércia dos governantes perante a destruição da democracia na Venezuela
Diogo Schelp

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Em profundidade: Populistas na América Latina

Cada vez que os mandatários latino-americanos se reúnem, Hugo Chávez rouba a cena. Como alternativa ao tédio das reuniões de cúpula, o presidente venezuelano oferece aos jornalistas momentos histriônicos e destempero verbal. Dessa forma, seja qual for o tema da reunião, ele acaba por levar as manchetes. Na Cúpula Ibero-Americana em Santiago do Chile, encerrada no sábado 10, a estratégia falhou: o rei Juan Carlos, da Espanha, perdeu a paciência e mandou Chávez calar a boca diante das câmeras de televisão. O rei reagia à provocação. O petroditador atacou José María Aznar, ex-presidente do governo espanhol, ausente ao encontro. Chávez não deixava o atual chefe de governo da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, terminar sua réplica ao insulto. O rei tomou então atitude esperada há tempos em encontros desse tipo e disparou: "Por que não se cala?". Diz o cientista político venezuelano Ricardo Sucre Heredía: "Essa foi a primeira vez que Chávez ouviu uma resposta tão contundente a seus insultos habituais, em um encontro dessa importância".
A reação de Juan Carlos trouxe satisfação a todos os torturados pela verborragia de Chávez. A questão é por que ninguém tinha reagido antes. Há várias explicações para a omissão de governantes latino-americanos e europeus diante das medidas tomadas pelo coronel para destruir a democracia na Venezuela – nenhuma delas honrosa. Alguns presidentes latino-americanos simplesmente comem na mão de Chávez. O argentino Néstor Kirchner conseguiu arrumar as contas domésticas com a ajuda de 5 bilhões de dólares retirados dos cofres públicos venezuelanos. Outros são companheiros na marcha da insensatez e compartilham dos mesmos objetivos. Evo Morales, da Bolívia, Daniel Ortega, da Nicarágua, e Rafael Correa, do Equador, estão entre eles. Já o presidente Lula, como demonstrou na semana passada, acompanha com enorme e suspeito interesse a metodologia empregada por Chávez para dar revestimento constitucional à sua ditadura.
Muitos governos europeus de centro-esquerda tratam Chávez com carinho. Zapatero era um deles até o embate na cúpula ibero-americana. Esquerdistas europeus são tradicionalmente tolerantes com os ditadores em terra alheia. Atentos à menor ameaça à democracia e ao direito das minorias em seu próprio país, eles vêem como natural, se não como desejável, que cubanos e venezuelanos vivam sob o jugo de caudilhos. A condescendência com o coronel venezuelano na cúpula não se justifica por nenhuma regra diplomática. No passado, reuniões similares foram oportunidades para condenar atitudes autoritárias de governantes. Na cúpula de 1992, em Madri, o presidente peruano Alberto Fujimori foi criticado por ter dissolvido o Congresso para acumular poder. Devido ao tema das violações dos direitos humanos em Cuba, levantado no Panamá, em 2000, Fidel Castro jamais voltou a aparecer nos encontros ibero-americanos.

Chávez sentiu o golpe. Isso se pode constatar pelas versões conflitantes sobre o episódio fornecidas pelo venezuelano em ocasiões diferentes. Primeiro, disse que não escutou o "Por qué no te callas?" de Juan Carlos, caso contrário teria dado uma resposta à altura. Depois, tentou fazer piada, falando que o rei partiu para cima dele como um touro. Por fim, truculento, amea-çou adotar represálias contra as empresas espanholas na Venezuela. A verdade é que, na cúpula, Chávez parou de matraquear por alguns instantes depois do pito do rei. Se a frase do monarca fosse uma pergunta, teria a seguinte resposta: Chávez não se cala porque, como Fidel Castro quando comparecia a essas cúpulas, precisa que o tema do encontro sejam suas desavenças com outro mandatário em lugar da erosão da democracia na Venezuela. O venezuelano, como Fidel, precisa inventar inimigos externos e internos – os Estados Unidos, Aznar, os empresários – para alimentar a sensação de que a Venezuela vive um momento de crise nacional e, dessa forma, justificar medidas excepcionais para fortalecer o próprio poder.
Uma atrapalhada tentativa de golpe, em 2002, deu a Chávez a munição necessária para acusar quem discorde dele de golpista. "Sempre que o país está perto de uma decisão política importante, como é o caso do referendo sobre a nova Constituição, Chávez resgata com freqüência o tema do golpe fracassado para inflamar seus partidários", diz Heredía, da Universidade Central da Venezuela, em Caracas. Na cúpula de Santiago, Chávez acusou Aznar de "fascista" e de ter apoiado o golpe de 2002. Ao longo da semana, já refeito da surpresa, estendeu a acusação ao rei. O epíteto "fascista" é comumente usado pelo chavismo para desqualificar a oposição. Trata-se de uma apropriação fraudulenta de uma ideologia política que os europeus conheceram na própria carne e sobre a qual não se deixam enganar por Chávez.

Milícia chavista: estilo fascista
A Espanha penou por quase quatro décadas sob o regime fascista do generalíssimo Franco. Os espanhóis devem a Juan Carlos a transição para a democracia, feita com um misto de firmeza e grande sensibilidade para superar a polarização do país. "Mais do que a posição como herdeiro do trono, foi seu papel democrático que garantiu a Juan Carlos a legitimidade política e o respeito entre os espanhóis", disse a VEJA o argentino Augustín Ferraro, do Instituto de Estudos Ibero-Americanos da Universidade de Salamanca, na Espanha. Ao tentar impedir que Zapatero expressasse sua opinião, o venezuelano repetiu a postura de intolerância que adota perante as vozes discordantes dentro de seu país. "O gesto democrático de Zapatero de defender Aznar, seu antecessor e adversário político, é algo que Chávez jamais faria", afirmou a VEJA o espanhol Manuel Alcántara, da Universidade de Salamanca. Em Brasília, ao defender Chávez, o presidente Lula confundiu democracia com a realização de eleições e plebiscitos. Preferiu não enxergar que foram exatamente esses os mecanismos democráticos usados por Chávez para destruir a democracia.
Com reportagem de Denise Dweck

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

"Não falta democracia..." Como?


Lula defende Chávez após discussão com rei e diz que não falta democracia na Venezuela
Fonte: O Globo Online e O Globo

Depois da polêmica entre o rei da Espanha, Juan Carlos , e o presidente venezuelano, Hugo Chávez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu em defesa do colega sul-americano. Segundo ele, divergências em reuniões entre chefes de Estado e de governo são comuns e afirmou que Chávez pode ser criticado por várias coisas, menos por falta de democracia na Venezuela.

- Podem criticar o Chávez por qualquer outra coisa. Inventem alguma coisa para criticar o Chávez. Agora, por falta de democracia na Venezuela, não. Esse homem já passou por três referendos, já teve três eleições não sei para quê, quatro plebiscitos. Ou seja, o que não falta é discussão - disse Lula, que acrescentou que continua denfendendo a entrada da Venezuela no Mercosul.
Leia o comentário de Miriam Leitão sobre as declarações de Lula

"
Inventem alguma coisa para criticar o Chávez, agora por falta de democracia na Venezuela não é "

- As pessoas se queixam porque o Chávez quer um terceiro mandato. Ora, porque ninguém se queixou quando Margaret Thatcher ficou tantos anos no poder? - questionou Lula em referência à ex-primeira-ministra britânica.

- Eu acho que democracia a gente submete aquilo que a gente acredita ao povo e o povo decide e a gente acata o resultado, porque senão não é democracia - afirmou Lula.

O presidente, que não presenciou a discussão entre Juan Carlos e Chávez, disse que não houve exageros dos dois. Para Lula, essas divergências acontecem em reuniões internacionais.

- Como é que você pensa que são as reuniões no G-8? Que você chega lá e tem um protocolo formal, que tem rir na hora certa? Não. Eu fui lá agora em Berlim para dizer para a Angela Merkel e dizer para o G-8 que, do jeito que está acontecendo a reunião, eu não tenho mais interesse de ir. Porque não estou disposto a ser tratado como cidadão de segundo classe. Ou nós fazemos reuniões para discutir os problemas do mundo ou não fazemos - afirmou Lula.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Frase de Rei febre na web


O já famoso "por que não te calas"? dirigido no sábado pelo rei Juan Carlos ao presidente venezuelano, Hugo Chávez, na Cúpula Ibero-Americana do Chile, está fazendo muito sucesso como chamada de telefones celulares.

» Veja o vídeo no Terra TV
» Saiba mais sobre a XVII Cúpula
» Rei espanhol e Chávez discutem
» Terra Magazine: briga entre rei e Chávez quebra tradição

Os mais atentos já tentam lucrar sobre as palavras do monarca espanhol. Um morador de Almería (Andaluzia) registrou o endereço porquenotecallas.com. As variações também já estão praticamente todas registradas.

Milhões de internautas consultaram as imagens do incidente diplomático reproduzido nos sites dos jornais espanhóis e em outros endereços eletrônicos. O vídeo se espalhou por toda a rede ao redor do planeta. Vários portais e blogs foram inundados de milhares de comentários sobre a cena. De acordo com uma pesquisa da AFP, quatro dias depois da discussão entre o rei e Chávez, mais de 300 vídeos a respeito do assunto estavam disponibilizados no YouTube (Google). Um dos mais vistos, com a frase traduzida ao inglês, "Why don''t you shut up?" foi consultada na terça-feira por mais de 160 mil internautas. No YouTube é possível assistir pelo menos 50 versões das imagens, feitas por vários canaiss, e entre todas elas somam mais de um milhão de acessos.

O "por que não te calas?" já ganhou versões musicais que podem ser utilizadas como som de chamada ou recepção nos celulares. As versões vão desde o tecno, trance, hip-hop passando até mesmo pelo regatton latino, chamado de modo bem-humorado de "rei-gatton".
Fonte:
Terra

terça-feira, 13 de novembro de 2007