domingo, 4 de maio de 2008

Teste avançado de DNA pode resolver o caso Isabella Nardoni

Peritos e legistas analisam relatório da morte de Isabella

O caso Isabella Nardoni: um exame simples pode indicar se é da menina o sangue no carro da família. Essa dúvida até hoje não foi esclarecida pelos peritos de São Paulo. Uma técnica rápida e eficiente que pode mudar até a historia do assassinato da menina.

O caso Isabella Nardoni: um exame simples pode indicar se é da menina o sangue no carro da família. Essa dúvida até hoje não foi esclarecida pelos peritos de São Paulo. Uma técnica rápida e eficiente que pode mudar até a historia do assassinato da menina.

Elizeu Fagundes de Carvalho é um dos principais especialistas do Brasil em análise de DNA. E é categórico: amostras de sangue de Ana Carolina Oliveira, a mãe de Isabella, podem ser fundamentais para esclarecer parte do que aconteceu na noite em que a menina foi assassinada.

“Em termos de análise genética, o caso ainda precisa ter continuidade” aponta o geneticista Elizeu Fagundes de Carvalho.

A pedido do Fantástico, ele analisou o resultados dos exames feitos pelos peritos da polícia de São Paulo. No carro da família e no apartamento da família, foram colhidos 20 vestígios de sangue para se tentasse extrair o DNA. Para comparar com as manchas de sangue encontradas os peritos colheram amostras do sangue de Isabella; do pai, Alexandre Nardoni; e da madrasta, Anna Carolina Jatobá.

O laudo não informa se os filhos do casal e se Ana Carolina Oliveira, a mãe da menina, também forneceram material para o teste.

Do material recolhido, 11 amostras foram consideradas insatisfatórias: os peritos encontraram sangue nelas mas não em quantidade suficiente para identificar o DNA. Nesses casos, não dá pra afirmar de quem é o sangue.

Foi o que aconteceu, por exemplo, com uma fralda encontrada no apartamento e que segundo a delegada que comandas as investigações teria sido usada para limpar o sangue de Isabella.

A polícia achou a fralda dentro de um balde com água, em processo de lavagem. Segundo o laudo, os exames encontraram sangue na fralda. Mas não foi possível extrair e identificar o DNA.

Segundo o professor Elizeu Fagundes de Carvalho, que é integrante do Conselho Federal de Biologia, o exame do caso Isabella foi o de DNA Genômico, também chamado de DNA nuclear, que é o teste mais comum.

“O DNA nuclear é o DNA que está presente no núcleo das nossas células”, diz Elizeu.

Segundo o professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, existe um outro tipo de exame de DNA - mais avançado - que poderia confirmar se não há mesmo sangue de Isabella nas amostras que deram resultado insatisfatório. É o chamado teste de DNA mitocondrial.

“Ela é uma molécula que garante possibilidades de análises, quando o DNA nuclear está muito degradado ou quando está em quantidade muito baixa. A quantidade para fazer DNA mitocondrial é da ordem de mil a 10 mil vezes menor do que a quantidade necessária para fazer DNA nuclear”, explica o professor Elizeu.

A mitocôndria é responsável pela respiração celular. É a central de energia da célula. Segundo o professor, exames que analisam o DNA da mitocôndria - e não do núcleo - têm uma característica especifica.

“O DNA mitocondrial é uma herança exclusivamente materna”, afirma.

O professor Elizeu Fagundes de Carvalho já esteve à frente de mais de 30 mil análises de DNA – 300 delas relacionadas à investigações criminais. Ele afirma que se esse exame for feito, usando amostras de sangue de Ana Carolina Oliveira, a mãe de Isabella, seria possível dizer, com mais precisão, se na mancha encontrada na cadeirinha do bebê, há ou não sangue da menina. A resposta, tanto para defesa quanto para a acusação, é considerada decisiva para explicar o que aconteceu na noite do crime.

O laudo do instituto de criminalística mostra que na mancha da cadeirinha, a perícia encontrou uma mistura de materiais biológicos de duas ou mais pessoas - uma delas do sexo masculino.

O resultado, portanto, foi inconclusivo. Numa tabela, com o resultado dos exames de DNA, é possível notar que nessa mistura da cadeirinha foi descoberto, inclusive, material genético que não pertence a nenhuma das pessoas que teve o sangue analisado.

Na hora de comparar o material encontrado na cadeirinha com os sangues de Isabella, do pai e da madrasta, havia trechos de DNA que simplesmente não batiam.

A conclusão, segundo peritos ouvidos pelo Fantástico, é que vieram de outra pessoa. E não podem ser dos irmãos de Isabella, porque, como eles são filhos de Alexandre com Anna Jatobá, é impossível terem trechos de DNA tão diferentes do
DNA dos pais.

Um professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que também analisou os laudos, diz que uma das explicações possíveis para isso é que outras pessoas tenham estado no carro, como um amigo da família ou uma pessoa que limpou o veiculo.

“Se teve um uso anterior que não seja da família. Qualquer vestígio ali teria complicado e até contaminado, evidentemente. Aquele sangue está presente lá, mas a gente não sabe se é anterior, se foi do momento”, aponta Nelson Massini.

Já sobre o sangue no apartamento, o laudo aponta que o sangue é recente. Apesar da dúvida em relação à cadeirinha e à fralda, Nelson Massini considera que o laudo dos peritos tem indícios relevantes, como as marcas da rede de proteção da janela, na camiseta de Alexandre Nardoni; a ausência de vestígios de alguém, que não fosse da família, no apartamento; e o pouco tempo que uma terceira pessoa teria para cometer o crime e fugir, sem ser visto.

“A gente fica com uma serie de interrogações que eu acredito que não serão suficientes para criar um embaraço maior nem na denúncia deles e nem no julgamento”, acredita Massini.

Para o professor Elizeu Fagundes de Carvalho, a ciência ainda tem um papel na investigação.

“Todas essas informações ainda podem ser coletadas e elas certamente trarão luz. E poderão ajudar. Em relação ao que aconteceu no caso do crime em que a vítima foi Isabella”, acredita.

Fonte: G1