segunda-feira, 7 de julho de 2008

Quanto tempo esperar para poder dirigir depois de beber?

Desde que a seca entrou em vigor, o atendimento a vítimas de acidentes no Hospital das Clínicas de São Paulo caiu 27%. Mas, depois de beber, você sabe quantas horas deve esperar até poder dirigir novamente?

A Lei Seca do trânsito começa a apresentar bons resultados: um motorista de Belo Horizonte colocou no pára-brisa do carro: “Seu guarda, lei é lei. Tomei umas e fui de táxi. Favor não rebocar.”

Mas como o seu corpo reage à bebida? Homens e mulheres, gordos e magros, brancos, negros e orientais levam o mesmo tempo para eliminar o álcool do organismo? Acompanhe agora o teste do Fantástico, com oito voluntários de tipos físicos variados.

Um tatuador de 43 anos, 128 quilos e 1,98 metro de altura: “Geralmente, eu bebo quando saio. Geralmente, eu saio de segunda a segunda. Então, geralmente, eu bebo todo dia”, calcula o tatuador Gilberto "Tattoo" Campello.

O estudante de Comunicação Audiovisual Fernando Watanabe, de 22 anos, 62 quilos e 1,68 metro de altura, e o fisioterapeuta Cláudio Hashimoto, de 28 anos, 70 quilos e 1,78 metro de altura, descendentes de japoneses.

E dois professores: William Pereira, que ensina Gastronomia, tem 28 anos, 84 quilos e 1,70 metro de altura, e Danielle Salemme, que ensina Educação Física, em 25 anos, 65 quilos e 1,58 metro. “Para voltar do barzinho, normalmente eu vou ou com a minha moto, ou com o carro da minha mãe. Dirijo legal depois”, garante Danielle.

A pedagoga Alcina dos Reis, de 41 anos, 58 quilos e 1,68 metro, e o casal Carlos “Bolinha” Vasconcellos, corretor de imóveis de 54 anos, 110 quilos e 1,75 metro, e Neide Gomes, secretária de 45 anos, 70 quilos e 1,65 metro, completam o grupo.

O encontro aconteceu num restaurante de comida mineira, em São Paulo. Às 12h, eles estão em jejum. Ninguém comeu nada, ninguém bebeu nada. O bafômetro confirma: nada de álcool no sangue.

Agora, começa a nossa experiência: uma taça de vinho para cada um antes do almoço. Quando entra no organismo, o álcool, que é uma molécula bem pequena, passa rapidamente do aparelho digestivo para a corrente sangüínea. “Vai acabar chegando ao cérebro, onde modifica o jeito como cérebro funciona”, explica o especialista em dependência química Sérgio Nicastri.

O sistema nervoso fica em câmera lenta. “Há uma tendência a relaxamento, diminuição da ansiedade, da crítica, de censura, da inibição”, ressalta Nicastri.

A capacidade de julgamento fica afetada. Inclusive a capacidade de a pessoa decidir se consegue ou não guiar. “Ela vai achar que está em condições de dirigir um carro. E talvez não esteja”, pondera Nicastri.

Meia hora depois da primeira taça de vinho, todo mundo sem comer, o bafômetro entra em ação. O teste começa com Neide.

O bafômetro, importado, calcula automaticamente a concentração de álcool no sangue. Só que usa unidades diferentes das brasileiras, então vamos esquecer os zeros. O resultado da Neide é o mais alto: 11 decigramas de álcool por litro de sangue. Com apenas uma taça de vinho, todos os voluntários sofreriam as punições da nova lei de trânsito, que é rigorosa.

Liberados, só os motoristas que tiverem menos de 2 decigramas - ou seja, dois décimos de grama - de álcool por litro de sangue. A partir de 2 e até 6 decigramas, a multa de R$ 957, suspensão da carteira de motorista e retenção do carro. De 6 decigramas para cima, tudo isso mais pena de até três anos de prisão. Além de Neide, Alcina, Danielle e Cláudio atingiram mais que 6 decigramas. Se fossem pegos dirigindo, poderiam ir para a cadeia.

O teste realizado teve acompanhamento médico do doutor Sérgio Duailib, que é especialista em dependência química da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ele comenta a primeira medição: “Os resultados maiores foram em mulheres e nas pessoas mais magras do sexo masculino.”

As mulheres apresentaram, em média, o dobro da quantidade de álcool no sangue em relação aos homens. Os cientistas sabem: “A mulher, de um modo geral, é mais vulnerável aos efeitos negativos, aos efeitos tóxicos do álcool”, afirma Nicastri.

Normalmente, as mulheres são mais leves e têm menos água no organismo do que os homens. Assim, o álcool, no sangue delas, fica mais concentrado. Diferenças de enzimas e hormônios completam o quadro. “Tudo isso torna a mulher mais desprotegida dos efeitos do álcool, na verdade”, atesta Nicastri.

Os orientais também costumam sofrer mais com o álcool. Quando bebem, o organismo acumula uma substância tóxica chamada aldeído. Eles podem ficar vermelhos, com mal-estar.

Novo teste, agora uma hora depois de os voluntários beberem o vinho com barriga vazia. Os níveis de álcool caíram bastante, menos para Danielle, que marcou ainda 7 decigramas. “Definitivamente eu não posso dirigir, cara”, diz a professora de educação.

Gilberto Tattoo e Carlos Bolinha, os mais pesados, zeraram o bafômetro. “O álcool não está no sangue porque está dissolvido na gordura”, explica Duailibi.

Hora do almoço e da segunda parte do teste. Mais uma taça de vinho, só que agora acompanhada de farta comida mineira. Trinta minutos depois, de barriga cheia, resultados muito diferentes.

O bafômetro não detectou álcool no sangue de William, Fernando, Carlos Bolinha e Gilberto Tattoo. E Neide tinha apenas um décimo da quantidade que apresentou quando bebeu de estômago vazio.

Isso tem explicação: é que uma comida com mais gordura, como a mineira, atrasa a absorção do álcool pelo organismo. “Interferindo, conseqüentemente, nos números apresentados no bafômetro”, diz Duailibi. Mas isso não significa que é só comer que o álcool desaparece do sangue. Danielle e Alcina marcaram 5 decigramas, muito mais do que as 2 decigramas que a lei permite.

Meia hora mais tarde, a quantidade de álcool no sangue de todos os voluntários era insignificante. Resumindo: o teste do “Fantástico” confirmou que as mulheres costumam ser as mais afetadas, durante mais tempo, pelo álcool. Já nos homens mais gordos, o nível de álcool no sangue cai mais rapidamente.

Mas, afinal, em quanto tempo a pessoa - qualquer pessoa - pode ter certeza de que está com zero de álcool no sangue? “Se for quantidades pequenas, com certeza após duas ou três horas já deve ter zerado no organismo. Quantidade pequena seria de um a dois copos de chope, uma taça de vinho ou uma dose de destilado de 50 ml”, aponta o especialista em dependência química Sergio Duailibi.

Fim de teste. Hora de voltar para casa, de carona, é claro! Porque depois que acabou o teste, o pessoal bebeu um pouco mais. “Se beber, chama o motorista da Globo pra levar, hein?”, brinca Gilberto “Tattoo”. “Tolerância zero não dá para arriscar”, conclui Danielle.

Fonte: Rede Globo - Fantástico